As duas barragens que colapsaram na Líbia foram construídas há cerca de meio século, entre 1973 e 1977, por uma construtora da então Jugoslávia. A catástrofe está à vista… dos que sobreviveram. E como estamos em Angola? Há manutenção? As novas barragens foram vistoriadas na sua construção? Ou são uma espécie de Canal do Cafu em escala tremendamente maior?
Na Líbia, a barragem de Derna tem 75 metros de altura e capacidade de armazenamento de 18 milhões de metros cúbicos. A segunda barragem, Mansour, tem 45 metros de altura e capacidade de 1,5 milhões de metros.
Essas barragens não passaram por manutenção desde 2002, disse o vice-presidente da cidade, Ahmed Madroud, à Al Jazeera. Mas os problemas com as barragens eram conhecidos. O jornal da Universidade Sebha alertou que as barragens em Derna tinham um “alto potencial de risco de inundação” e que era necessária manutenção periódica para evitar inundações “catastróficas”.
“A situação actual no reservatório de Wadi Derna exige que as autoridades tomem medidas imediatas para realizar a manutenção periódica das barragens existentes”, recomendou um documento divulgado em 2022.
Também se constatou que a área circundante carecia de vegetação adequada que pudesse prevenir a erosão do solo. Os moradores da área deveriam ser alertados sobre os perigos das inundações, mas não foram.
Liz Stephens, professora de Riscos Climáticos e Resiliência na Universidade de Reading, no Reino Unido, disse à CNN que havia sérias questões a serem feitas sobre o padrão de projecto da barragem e se o risco de chuvas muito extremas foi levado adequadamente em consideração: “É muito claro que sem o colapso da barragem não teríamos visto o trágico número de mortes que isso resultou”.
“As barragens teriam retido a água inicialmente, e a sua falha potencialmente libertaria toda a água de uma só vez”, disse Stephens também ao Science Media Center, acrescentando que “os detritos apanhados nas águas das cheias teriam aumentado o poder destrutivo”.
Desde a luta contra o Estado Islâmico e, mais tarde, contra o comandante oriental Khalifa Haftar e o seu Exército Nacional Líbio (LNA), a infra-estrutura da cidade desmoronou e é lamentavelmente inadequada face a inundações como a provocada pela tempestade Daniel.
Embora as barragens sejam geralmente projectadas para resistir a eventos relativamente extremos, muitas vezes isso não é suficiente, diz Hannah Cloke, professora de hidrologia na Universidade de Reading, no Reino Unido, acrescentando: “Deveríamos estar preparados para eventos inesperados”.
O risco que condições meteorológicas extremas provocadas pelo clima representam para as infra-estruturas – não apenas para as barragens, mas para tudo, desde edifícios até ao abastecimento de água – é global. “Não estamos preparados para os eventos extremos que se aproximam”, diz Hannah Cloke.
E PELO REINO DO MPLA COMO É?
A guerra civil que se abateu sobre Angola (1975-2002) teve como uma das consequências a degradação dos serviços de produção, transporte e distribuição de energia eléctrica. Nas zonas rurais as taxas de cobertura da rede eléctrica são inferiores e inexistentes em alguns casos devido ao difícil acesso, quando se faz a comparação com as áreas urbanas.
Com o alcance da paz, foram criados diversos programas e planos que visam a melhoria do sector eléctrico angolano. Angola tem uma elevada disponibilidade de recursos hídricos e com uma sazonalidade climática bem marcada, onde a água constitui um bem essencial ao desenvolvimento socioeconómico.
A matriz energética é bastante diversificada, salientando-se o vasto potencial hídrico que conta com 47 bacias hidrográficas. O país explora somente 5% do potencial hídrico. As barragens tornaram-se elementos de grande preponderância para as sociedades devido à importância que estas apresentam. Vistas como elementos cruciais ao progresso, obtiveram a sua evolução natural ao longo da história acompanhando o homem até aos dias de hoje.
As barragens surgem pela necessidade de armazenamento de água que permitiu a fixação de populações, permitindo assim fazer face a períodos de seca. Angola possui muitas barragens, algumas para fins hidroeléctricos e outras para irrigação, consumo e regularização de caudais.
Muitas das barragens existentes foram construídas durante o tempo colonial, tendo muitas ficado inoperacionais devido ao conflito armado ou por deficiente ou nula manutenção. A electrificação de zonas rurais está a permitir a diminuição da migração da população para as áreas urbanas, por potenciar o aumento da agricultura, acesso à educação, saúde e bens fundamentais de sobrevivência, como a água tratada.
A energia permeia a vida de todas as pessoas. Nos dias actuais, há a necessidade de energia para pôr em prática todas as actividades diárias, como por exemplo para o uso doméstico e para o funcionamento das indústrias. No entanto, as fontes de energia fósseis estão ameaçadas devido às acções indiscriminadas do homem com o meio ambiente. Por este motivo há uma grande necessidade do desenvolvimento de projectos e de políticas que criem alternativas sustentáveis quanto ao uso responsável da energia e do melhor aproveitamento das fontes de energias renováveis.
O (MAU E PERIGOSO) EXEMPLO DO CANAL DO CAFU
O Executivo de João Lourenço, do MPLA há 48 anos, reconhece “falha” no Canal do Cafu, destruído pelas chuvas, menos de um ano após a sua inauguração. A culpa é do Estado pois é de “fraca qualidade” a obra feita na província do Cunene.
O Canal do Cafu, construído na província do sul de Angola e que foi inaugurado pelo Presidente angolano, João Lourenço, em Abril de 2022, não aguentou um ano.
O Instituto Nacional de Recursos Hídricos do Ministério da Energia e Águas informou que devido às fortes chuvas que ocorreram na altura na cidade de Ondjiva, capital do Cunene, uma das secções do Canal Condutor Geral do Cafu sofreu um deslocamento de placas.
Trata-se de um canal com 165 km de extensão, que foi pensado para aliviar os efeitos da seca no sul de Angola. Tem uma capacidade para transportar 50 milhões de litros de água e terá custado ao Estado cerca de 140 milhões de dólares.
Mas como é que as chuvas danificaram o canal, menos de um ano depois da inauguração? Em declarações à DW, o engenheiro Jerónimo António disse que houve problemas de construção. E não terão faltado avisos.
“As obras do canal não são aceitáveis, não têm qualidade, e fomos alertando o Governo para isso, sobretudo quando vimos que faziam o reboco da parede com cimento normal, com talocha normal”, disse o engenheiro alegando que o Canal do Cafu “não tinha condições para aguentar o peso da água que passa pela extensão”.
A UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite em Angola, pediu explicações sobre o que aconteceu no Canal do Cafu, e requereu a comparência dos ministros da Energia e Águas e da Construção e Obras Públicas no Parlamento.
Foram muitos os técnicos que, em tempo útil, avisaram para o não uso de materiais apropriados que garantissem a resistência da construção por muito tempo.
O engenheiro Jerónimo António, que é membro fundador da Câmara de Comércio e Indústria no Cunene, acredita que os problemas no Canal do Cafu se terão agravado com a ocultação do que se estava a passar na obra. A fiscalização terá falhado, refere o engenheiro, e é preciso impedir que casos do género se repitam no futuro.
“Na verdade, não é o Presidente da República que faz a fiscalização nas obras, mas o Presidente deve trabalhar com uma entidade independente, que vele por estas questões de fiscalizar as obras que gastam tanto dinheiro público”, comentou.
O ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, assegurou em entrevista à Televisão Pública do MPLA (TPA) que o Estado não iria pagar os danos. Seria a empresa empreiteira a assumir os custos da reparação do Canal do Cafu, criando condições “para que eles não se verifiquem mais”, disse o governante.
Baptista Borges reconheceu que houve uma “falha”, mas garantiu que o Canal do Cafu irá “cumprir o seu papel” no combate à seca no sul de Angola.
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